...de início Yoga é algo que você faz (...) depois isto se transforma em uma maneira de estar no mundo, um modo de ser. O Yoga então torna-se indistinto daquilo que você é, não algo que alguém simplesmente executa...
Ashtanga Pitanga Yoga Shala
www.helenarosenthal.com
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
terça-feira, 3 de setembro de 2013
O que é Ashtanga Yoga?
- anotações
da conferência, proferida por R.Sharath Jois (diretor do KPJAYI em
Mysore), no workshop ministrado em Londres, 08/2013 -
Por que Vinyasa é importante? Ele permite que o sangue circule adequadamente e purifica o sistema nervoso . Ele gera calor interno, eliminando toxinas . Uma vez que as toxinas são removidas, o corpo a se tornar mais saudável.
A prática de asanas torna-se meditativa (somente) quando você é capaz de controlar sua mente . Devem ser feitos por um longo tempo, ao longo de muitos anos e de forma contínua, com respeito e gratidão. Então, isso nos dará a fundação adequada para desenvolvermos níveis mais elevados de Yoga. O corpo precisa mudar, e você precisa compreender a técnica de respiração ".
"O
que é Ashtanga Yoga? O que é Yoga? Nós
temos que compreender isto. Chegamos ao yoga através dos asanas. É
o que, normalmente, atrai a todos nós. Vemos alguém praticando e
pensamos 'wow , eu quero fazer aquilo'.
Mas
será que Yoga é isso? Yoga não é somente asanas. Este é apenas
um dos membros. Ashtanga Yoga é composta de oito membros .
Quando estes acontecem juntos, tornam-se Ashtanga Yoga. Asana é uma parte muito importante, mas não é a etapa final . É apenas o começo. Mas todo mundo tem que começar por algum lugar . Você não pode ir para a universidade diretamente. Primeiro vai-se ao jardim de infância , então ensino primário, colegial, etc.
Não se pode ir diretamente ao Samadhi . É um processo que deveria ocorrer lentamente. Primeiro é preciso limpar e purificar nossos corpos e mentes.
Ao executarmos asanas é preciso aplicar Yamas e Niyamas. No Cirque de Soleil todos dobram seu corpos - isso não é Yoga. Yoga é para a auto- transformação.
Citta vritti nirodhah - retrair os órgãos dos sentidos para controlar a mente.
Isso desponta com a prática de asanas, então quando você aplica Yamas e Niyamas, a transformação acontece dentro de nós.
Guruji costumava dizer '99% prática, 1% teoria', o que foi muito mal compreendido – as pessoas achavam que deviam fazer asanas por todos os cantos. O significado real disso é aplicar Yamas e Niyamas em nossa vida diária.
Abhyasa vairagyabhyam tat nirodhah - uma vez que temos uma prática adequada, então é possível retrair os órgãos dos sentidos .
Na linhagem de Krishnamacharya há tantos asanas quanto existem seres vivos. Este sistema é diferente de outras formas de Yoga . Existem hoje inúmeros diferentes estilos de Yoga, mas esta linhagem é uma prática tradicional - é o sistema de Vinyasa, uma técnica de respiração e movimento.
Quando estes acontecem juntos, tornam-se Ashtanga Yoga. Asana é uma parte muito importante, mas não é a etapa final . É apenas o começo. Mas todo mundo tem que começar por algum lugar . Você não pode ir para a universidade diretamente. Primeiro vai-se ao jardim de infância , então ensino primário, colegial, etc.
Não se pode ir diretamente ao Samadhi . É um processo que deveria ocorrer lentamente. Primeiro é preciso limpar e purificar nossos corpos e mentes.
Ao executarmos asanas é preciso aplicar Yamas e Niyamas. No Cirque de Soleil todos dobram seu corpos - isso não é Yoga. Yoga é para a auto- transformação.
Citta vritti nirodhah - retrair os órgãos dos sentidos para controlar a mente.
Isso desponta com a prática de asanas, então quando você aplica Yamas e Niyamas, a transformação acontece dentro de nós.
Guruji costumava dizer '99% prática, 1% teoria', o que foi muito mal compreendido – as pessoas achavam que deviam fazer asanas por todos os cantos. O significado real disso é aplicar Yamas e Niyamas em nossa vida diária.
Abhyasa vairagyabhyam tat nirodhah - uma vez que temos uma prática adequada, então é possível retrair os órgãos dos sentidos .
Na linhagem de Krishnamacharya há tantos asanas quanto existem seres vivos. Este sistema é diferente de outras formas de Yoga . Existem hoje inúmeros diferentes estilos de Yoga, mas esta linhagem é uma prática tradicional - é o sistema de Vinyasa, uma técnica de respiração e movimento.
Por que Vinyasa é importante? Ele permite que o sangue circule adequadamente e purifica o sistema nervoso . Ele gera calor interno, eliminando toxinas . Uma vez que as toxinas são removidas, o corpo a se tornar mais saudável.
A prática de asanas torna-se meditativa (somente) quando você é capaz de controlar sua mente . Devem ser feitos por um longo tempo, ao longo de muitos anos e de forma contínua, com respeito e gratidão. Então, isso nos dará a fundação adequada para desenvolvermos níveis mais elevados de Yoga. O corpo precisa mudar, e você precisa compreender a técnica de respiração ".
quinta-feira, 18 de abril de 2013
...a voz do meu velho mestre ecoando novamente...
Ashtanga, Surf e a Grande Máquina de Fazer Salsicha
Antonio trabalha com jornalismo, é apaixonado por surf e tem se dedicado ao Ashtanga Vinyasa com afinco. Abaixo ele nos conta um pouquinho como hoje, prestes a completar 50 primaveras, simplesmente surfa melhor do que nunca.
"Aos 20 anos, tive uma forte crise de valores que me levou a procurar alguém que pudesse me instruir no caminho do Conhecimento. Tinha acabado de entrar na faculdade e estava relutando em entrar de peito aberto na Grande Máquina de Fazer Salsicha que era o mercado profissional.
A mão do destino me levou até um mestre de natação chamado Kanichi Sato que me iniciou no caminho da evolução constante e gradual da prática Zen. No Zen, trabalhar corpo, comportamento e o entendimento das coisas é uma coisa só. Não se separa corpo de espírito. Aliás, não se separa nada de nada.
O velho Sato – que instruiu natação no Clube Pinheiros por muitos anos e formou muitos campeões – sempre naquele sotaque japonês carregado, dizia todos os dias:
- Senhor da água, senhor do Eu.
A sua linguagem era poética e dava margem a muitas interpretações. Mas nós, que adorávamos as suas aulas, sempre entendíamos o que ele queria dizer.
Um dia, quando ele achou que eu já nadava o suficientemente bem, me chamou e disse:
- Antonio, piscina é gaiola e gaiola é prisão. Agora vai nadar em mar. Mar é liberdade.
Meu irmão já surfava e passei a pegar carona nas barcas que ele fazia para a praia todo o fim de semana. Algumas tentativas frustradas e, em pouco tempo, estava deslizando sobre as ondas. Minha vida mudou. O mundo intelectual e tacanho – que supervaloriza o estudo racional e despreza o corpo - que havia me emparedado na Faculdade estava desaparecendo e o contato com o Mar aberto me trazia uma nova percepção de mundo.
Os momentos mais inesquecíveis eram os finais das tardes de domingo, um pouco antes de termos de arrumar as coisas e voltar para a Matrix (São Paulo). Pendurados nas pranchas, vendo a tarde sumir e a noite chegar dentro do mar, nos agarrávamos em silêncio às nossas “bóias” (apelido das pranchas), aproveitando tudo o que o Mar podia nos dar até o último segundo do último minuto possível...
Sempre estávamos em 5 ou 6 garotos. Com a pouca luz que sobrava, eu via apenas a sombra de cada um deles dentro das águas. Ninguém falava. Mas a comunicação era profunda. De dentro dos nossos peitos exalava um profundo amor e respeito pelo Mar, pelo espaço aberto, pelo infinito.
Alguns anos se passaram, o velho Sato faleceu com mais de 90 anos. Eu resisti fora da Máquina de Fazer Salsicha até perto dos 30 anos. Depois disso, sucumbi aos pagamentos de contas, das intermináveis prestações de automóveis e laços sociais e profissionais. Consegui me manter na prática da ioga e no Caminho do Conhecimento, mas o surf se foi... as ondas... o mar aberto... os amigos... a prática do zen...
Mantive a prática da hatha ioga. Mas, sendo uma modalidade de ioga muito suave, não me colocava em forma física. Embora o relaxamento e a meditação sejam muito interessantes.
Aos 45, já estava gordo e fora de forma. Um dia peguei minha prancha e fui para o litoral. Decepção. Não consegui nem varar uma pequena arrebentação de um mar com ondas que não passavam de 1 metro de altura. Naquele dia, achei que realmente estava a caminho de ganhar meu diploma de salsicha. Uma salsicha trabalhadora, cheia de responsabilidades, mas ainda assim um embutido - enlatado de primeira.
Conversa aqui e ali e um amigo me indicou a prática da Ashtanga.
- Ideal para o surf, pegar forma, muito ativa! Foi o que ele disse...Bacana. Procurei a Escola Santosha Yoga Shala e passei a frequentar quase todo dia. Bingo! Zen, ioga, surf... agora dava para juntar tudo num pacote só! A Ashtanga, ao mesmo tempo que trazia forma física com a agilidade necessária para enfrentar grandes desafios físicos, me colocava em contato novamente com a prática de zen:
- Percepção do corpo, evolução contínua... Era a voz do meu velho mestre ecoando novamente em meus ouvidos.
Com algum tempo de prática começo a constatar que através da ashtanga é possível conhecer tudo o que os grandes mestres da índia descrevem em seus livros: o prana, os canais energéticos, o diafragma como “porta de entrada da vida”, entre outros conhecimentos fartamente descritos nos livros antigos. Até então, para mim, toda essa informação dos velhos manuscritos eram apenas histórias... Eu intuía haver verdade naqueles textos, mas não conhecia a prática correta para acessar aquele conhecimento perceptivo do corpo. A Ashtanga me deu isso!
Aos poucos, ganhei forma, elasticidade e velocidade nos movimentos. E, então, perto dos 50 anos, pude voltar a pegar ondas. Uma casa alugada com velhos amigos marítimos, uma prancha nova e “olha eu aqui outra vez”!!!
O mais interessante é que estou melhor que aos 25 anos (não que eu seja grande coisa... Apesar do meu esforço, nunca tive um grande talento para o surf, continuo o prego de sempre... rs).
Os suryas da ashtanga tem uma relação muito estreita com o surf. Dropar uma onda é fazer um surya. O movimento é igual. Além disso, o equilíbrio e a percepção que a ashtanga traz estão em perfeita sintonia com esse esporte. Não é a toa que grandes feras como Tom Curren e muitos outros adotaram a prática da ioga como preparo profissional.
Aliás, surf, ioga, zen, conhecimento e Hawaii sempre tiveram tudo a ver. Mas isso é história para outro dia. Aloha!"
Antonio José Canjani
sexta-feira, 12 de abril de 2013
A Evolução do Ashtanga Yoga - por Matthew Sweeney
Este é um problema existente em todas as tradições. Sendo assim, entender alguns princípios em funcionamento é algo importante. Na maioria das aulas de Ashtanga, nós começamos com respiração e vinyasa, os movimentos na Saudação ao Sol. Eventualmente nós avançamos no aprendizado com posturas em pé, geralmente na ordem tradicional e depois as posturas sentadas, um ou dois ásanas por vez.
Em algum momento deste processo o aluno vai ter dificuldades (físicas ou de algum outro tipo) e vai precisar de encorajamento para continuar, para focar na técnica tradicional, ou será necessário receber alguma alternativa a fim de facilitar sua prática.
Essa escolha básica é verdadeira para todas as práticas, seja ela de ásanas, meditação ou alguma outra coisa. Você se atém a técnica e tradição, ou faz variações? Em que momento a variação é apropriada? Minha opinião sobre isso é simples – não é uma questão de se você deve fazer variações na tradição (qualquer tradição) mas sim, de quando. Em termos de evolução humana e desenvolvimento holístico, mais cedo ou mais tarde, qualquer técnica ou tradição que você aderir se torna limitante, e faz o seu potencial diminuir. Para adotar uma perspectiva espiritual verdadeira você precisará ultrapassar um método singular, ou uma visão unidimensional.
Uma coisa que eu tenho observado é que, dependendo de quando você iniciou suas práticas de Ashtanga Yoga, você provavelmente tem uma atitude diferente sobre o que tradição realmente significa. A maioria dos professores que aprenderam nos anos 60, 70 e 80 não ensina de forma tão rigorosa como os que aprenderam depois dos anos 90. A tradição mudou, as sequências mudaram e o estilo de ensino mudou. Existem boas e não tão boas razões para isso. Por exemplo, existem vantagens de se fazer menos saltos para trás do que se ensina hoje em dia, vantagens na alteração de algumas sequências e na intensidade da prática de um dia para outro. Cabe a nós definir quais são as vantagens e quais são as desvantagens.
Para mim é simplesmente uma questão de momento, de quando é apropriado introduzir tradição – a série intermediária, por exemplo, ou uma alternativa como Vinyasa Krama, ou Yin Yoga ou meditação. Eu normalmente não introduziria uma alternativa nos primeiros seis meses do aprendizado de Ashtanga, ou até mesmo muito mais tarde. Após a fase inicial do aprendizado é mais importante levar em consideração as necessidades do estudante do que seguir cegamente a tradição. É importante considerar se Ashtanga tradicional é apropriada (e muitas vezes pode não ser) e observar se você não ensina uma alternativa por medo, rigidez ou inabilidade.
Eu acho curioso que eu sou um dos poucos professores de Ashtanga tradicional que ativamente abraça sequências diferentes e encoraja estudantes a praticá-las – sem abandonar a Ashtanga tradicional. Eu utilizo sequências alternativas para assistir e engrandecer a prática da Ashtanga, e não para trocá-la completamente. Isso tem mais a ver com o que é apropriado e prático do que com fé cega, dogma, ou com fazer coisas aleatoriamente simplesmente por que eu quero – apesar de, sinceramente, essa última razão ser bastante útil às vezes. Sequências alternativas podem engrandecer o método Ashtanga sem alterá-lo, ou ameaçar sua forma e função.
É importante aceitar que métodos de ensinamento irão variar de pessoa para pessoa – todos nós vamos ensinar de forma diferente e com um entendimento diferente do que é apropriado. Por que as sequências do Ashtanga são tratadas como uma vaca sagrada? É uma prática maravilhosa, mas são apenas sequências de ásanas no fim do dia. Não existe nada originalmente espiritual ou sagrado sobre elas. Eu certamente acredito que manter a tradição (seja ela o que for) é realmente recompensador e absolutamente apropriado para a maioria dos alunos, por um determinado tempo. Apenas não para todos e, certamente, não para sempre.
Ashtanga Vinyasa Yoga é um sistema relativamente novo, apesar de opiniões contrárias.
À parte das evidências de que as sequências tenham sido modificadas no decorrer dos anos por Pattabhi Jois (geralmente para melhor, em minha opinião), a maioria concordaria que o professor T. Krishnamacharya (professor de K.P.Jois) inventou o sistema durante seus anos no Mysore Yoga Palace – e foi muito influenciado pela tradição da ginástica ocidental. Eu considero isso inspirador. Ele uniu conceitos da sua experiência tradicional e fez algo novo, vibrante e útil para pessoas ao redor do globo.
É somente recentemente que estamos vendo praticantes comprometidos de Ashtanga Vinyasa praticando por mais de vinte ou trinta anos. A evidência do que realmente funciona, particularmente a longo prazo, ainda está emergindo. O que é interessante é que um dos temas comuns na interrupção da prática de Ashtanga é que se ela for aplicada de forma muito rígida, se torna desnecessariamente difícil e, muito frequentemente, causadora de lesões. Estar aberto para alguma experimentação e ao conceito original do Instituto de Pesquisa de Ashtanga Yoga (Mysore) é algo que ainda deveria ser aplicado a todos os professores e
praticantes.
O que torna Ashtanga Yoga único?
As séries da Ashtanga são únicas em vários aspectos:
1. Ashtanga Yoga é, até hoje, a única prática de Yoga que desenvolve igualmente força e flexibilidade. É interessante que todos os outros métodos de ásanas no planeta, até onde eu sei, não enfatizam força na mesma medida que flexibilidade. Existe um preconceito em favor da flexibilidade. Em alguns casos isso é apropriado (na Yin Yoga, por exemplo) mas, de forma geral eu acho isso desequilibrado. Por que flexibilidade é mais importante que força? Obviamente que não. Um sem o outro é desequilíbrio, físico e mental.
2. Outro aspecto que o Ashtanga oferece, e nenhum outro método oferece, é a ênfase na prática. Em nenhuma outra técnica existe tamanha ênfase na prática – apesar de críticas sobre alguns professores de Ashtanga, válidas ou não, quanto aos 99% prática, 1% teoria (conhecida frase proferida por Pattabhi Jois). Além disso, exige-se comprometimento e experiência enormes para ensinar no estilo Mysore e, ainda mais comprometimento e experiência para fazê-lo bem. É muito mais fácil ensinar aulas guiadas, e geralmente também mais recompensador financeiramente.
A prática individual é a única forma de experienciar um estado verdadeiramente meditativo durante a performance dos Ásana. Por que será que não há quase professores do método Iyengar montando grupos de prática supervisionada individualmente – e ensinando para os alunos, não apenas praticando com eles? O mesmo vale para aulas de Vinyasa, Bikram Yoga, Anusara Yoga, Hatha Yoga, Sivananda Yoga etc. Prática supervisionada individualmente é o caminho para ir mais adiante.
Na Índia eu encontrei apenas alguns professores de Hatha Yoga e Iyengar que conduzem aulas no formato supervisionado (com instrução individual). Cada um era maravilhosamente habilidoso e realizado no seu próprio jeito, e capaz de trabalhar com um grupo diverso de alunos fazendo ásanas aparentemente aleatórios, de forma independente. É preciso muito mais disciplina e habilidade para ensinar aulas supervisionadas do que aulas guiadas. Ensinar aulas supervisionadas muito bem também exige muito mais compaixão.
3. Ashtanga Yoga frequentemente aparenta facilitar resultados físicos mais rápidos do que outros métodos. Em razão do equilíbrio entre força e flexibilidade e a prática de 5-6 vezes por semana, Ashtanga transforma o corpo. Tenha em mente que em alguns casos os resultados podem ser negativos – uma ênfase demasiada na leveza física, perda de peso corporal e rigidez mental. Só porque você tem um corpo flexível não faz de você uma pessoa flexível!
O simples fato é que aderindo à sequência fixa do Ashtanga, embora necessário mais disciplina, os resultados são definitivos. Sem uma sequência fixa, sem algum tipo de comprometimento com sua própria prática, tanto os resultados do corpo como o foco da mente são, em geral, limitados. O principal benefício de uma sequência fixa é que ela te mantém honesto. Você é forçado a fazer posturas que são difíceis ou problemáticas, sem evitá-las ou fazendo apenas aquelas que você gosta ou que te fazem sentir bem. O problema é que se isso for aplicado com muita rigidez, você será forçado em uma postura que pode te causar lesões. Evitar posturas difíceis ou problemáticas é um erro enorme, especialmente com estilos de Yoga que não trabalham com sequências fixas. Tanto os praticantes novatos como os avançados podem cair nessa armadilha, que leva a beneficiar suas forças e evitar suas fraquezas, o que por sua vez, leva a um desequilíbrio maior.
4. Ajustes. Eu acredito que uma das melhores habilidades que a maioria dos professores de Ashtanga tem é comunicar a prática através das suas mãos. A maioria faz ótimos ajustes, ambora alguns fazerem ajustes em demasia ou com muita força. Mais uma vez, se isso for feito com muita rigidez pode levar a lesões. Isso é algo que penso faltar na maioria dos outros sistemas, apesar de que isso ocorra basicamente pelo fato das aulas serem guiadas, e não supervisionadas individualmente: é mais fácil fazer ajustes em aulas do estilo Mysore porque você tem mais tempo para observar, ao invés da necessidade de falar o tempo todo.
5. Observação dos dias lunares. Ashtanga Yoga é um dos únicos sistemas que eu conheço que deliberadamente segue os ciclos lunares e que nos ensina a prestar atenção a eles e como afetam nosso corpo.
Algumas deficiências do método Ashtanga
Algumas observações que fiz ao longo dos anos me mostram onde Ashtanga Yoga está potencialmente desequilibrado. Isso não é uma crítica severa ao método ou à sequência – eu amo Ashtanga Yoga e ainda pratico as séries. Elas têm me servido bem e continuam a fazê-lo.
1. Qualidade de energia Rajasica, baseada no Surya. A prática Ashtanga é particularmente aquecedora e elevadora em sua natureza (por isso, mais masculina na sua energia) e tende a uma qualidade Rajasica de prática. Isso não é um julgamento de certo ou errado – mesmo porque existem qualidades boas e ruins em todas as técnicas e em todas as pessoas. É fútil tentar excluir Ashtanga dessa condição humana. Por exemplo, a energia Surya da prática é elevada através da natureza linear da adesão às sequências e à tradição, fazer
o lado direito na maioria das posturas, e focar em elevar constantemente com os três Bandhas. Não me surpreende que os estudantes que mais negam o efeito Rajasico do Ashtanga são os que mais se encontram presos por essa qualidade.
Etimologicamente, Surya e Rajas são sinônimos, como o caso de Chandra e Tamas. Surya é Sol e Rajas é ativo. Chandra é Lua e Tamas é inativo. A combinação de Sol e Lua, masculino e feminino, é Sattva ou ritmo verdadeiro e equilíbrio. Na maioria das práticas de Yoga modernas, Surya e leveza são conferidas como qualidades positivas e Tamas e peso são conferidas como qualidades negativas. Isso meramente indica o desequilíbrio de professores e estudantes que focam dessa forma. Ambos são importantes, nenhum é bom ou ruim. Por essa razão, há alguns anos atrás, eu comecei a ensinar à maioria dos meus alunos a sequência da Lua, uma combinação de sequência baseada no Yin e vinyasa gentil.
2. Ficar preso na Primeira Série. Na primeira série da Ashtanga existe muita ênfase em saltos que normalmente resultam em tensão nos ombros e pulsos. Existe muita ênfase em alongamentos e nos músculos e tendões da coxa que pode agravar muitos problemas de coluna. Essa sequência não enfatiza particularmente a flexibilidade dos ombros, pelo contrário, ela desenvolve ainda mais a força dos ombros.
É importante balancear cada aspecto do corpo: superior e inferior, força e flexibilidade. Nos primeiros anos de ensinamento de K. P. Jois, a primeira série não tinha tantos saltos, nem tantas posturas. Você não saltava para trás em ambos os lados e muitas posturas eram conectadas em grupos de três ou quatro com uma vinyasa depois de cada grupo. Esse método ainda é útil para muitos alunos, tanto novatos como avançados.
Um dos pontos chave da prática de ásanas é abrir o corpo; que por sua vez abre a mente. Mais cedo ou mais tarde sequências alternativas ajudam a abrir ainda mais o corpo do praticante depois da sequência fixa ter sido completamente explorada. Para alguns alunos isso pode acontecer no meio da Avançada A (terceira série) e para muitos alunos isso pode acontecer em algum momento da primeira série. Como a maioria dos seres humanos não consegue praticar a primeira série toda, muito menos a Intermediária, é mais uma questão de quando mudar a sequência. Um benefício chave de sequências e posturas alternativas é que a prática pode ser customizada para necessidades individuais, ao contrário de se assumir que uma ou outra sequência possa ser universalmente aplicada a todos os praticantes.
Cada um de nós tem uma ideia diferente sobre o que é tradição. Então, empiricamente, é impossível que todos ensinem o mesmo. Cada professor que eu conheço pratica e ensina a sequência com algum tipo de variação da tradição (seja respiração, alinhamento, ou postura). É simplesmente uma questão de grau de intensidade. Além disso, fisicamente, Ashtanga Yoga não serve para todo mundo. Não é possível ensinar todo mundo, apesar do que podem dizer alguns professores. Se você considerar a verdade disso, portanto, é uma responsabilidade para o professor tentar aprender o que for preciso para se capacitar a ensinar qualquer pessoa. De outra forma, não é Yoga e é muito limitado.
Por exemplo, como você ensina alguém sem um braço ou em uma cadeira de rodas? Ou com esquizofrenia? Apesar de eu acreditar que a devoção e entrega à prática (e à tradição e ao professor) são muito importantes, é ainda mais importante se entregar ao seu propósito superior, o bem maior, a consciência superior. Mais cedo ou mais tarde isso tem que levar além da abordagem tradicional, caso contrário você estará preso.
3. Falta de conselho técnico. O professor clássico, tradicional de Ashtanga não ensina aulas de técnica – isso não é bem visto em Mysore. Conselhos de como chegar a certas posturas, detalhamento de alinhamento, e conselhos técnicos, simplesmente não fazem parte do sistema. É claro que a maioria dos professores oferece uma palavra tímida aqui ou ali numa aula do estilo Mysore, mas raramente isso é feito para o grupo como um todo. Como resultado muitos praticantes de Ashtanga veteranos permanecem desinformados de muitos detalhes pertinentes que poderiam ser úteis. Tendo dito isso, uma vantagem da falta do componente técnico é que isso
leva a uma devoção, entrega e aprendizado experimental maior. Você pode praticar com introspecção e fazer uma prática para você mesmo, sem muita interferência externa. Pessoalmente, eu acho que o ideal é o equilíbrio – tempo para praticar sem interrupção e tempo para explicação clara e específica. Um bom professor deve
permitir ambos.
4. Seguindo o ponto 3, aqui estão alguma áreas estruturais que frequentemente precisam de mais participação.
A. Ombros e sequência lombar superior. Minha maior crítica estrutural da Ashtanga e de muitas aulas de Hatha Yoga é que a maioria dos professores não passa muito tempo desenvolvendo a abertura dos ombros e da lombar superior. Isso é tão importante quanto qualquer outra área. Por exemplo, abertura dos quadris e
flexibilidade na lombar inferior são enfatizadas muito mais, tanto na Ashtanga como em aulas de Hatha Yoga. Eu frequentemente passo uma sequência de ombros como lição de casa para alunos de Ashtanga e, às vezes, introduzo junto da primeira série.
B. Variações para o quadril. Depois de ensinar a sequência da Lua para muitos alunos de Ashtanga, que tem mais variações para o quadril, eu percebi muitos deles aliviados e animados de poder acrescentar isso aos seus repertórios. A sequência da Lua aparenta fazer com que muitos aspectos da primeira série sejam mais acessíveis – ambos física e psicologicamente. Eu fui capaz de introduzir a primeira série para alguns alunos que não teriam sido introduzidos se eles não tivessem entrado em contato com a sequência da Lua antes. Por exemplo, muitas posturas de abertura de quadril desta sequência tiram pressão dos joelhos, aliviando
eclamações comuns da Ashtanga Yoga. Para a minha própria prática, eu não precisei muito disso quando comecei a elaborar a sequência da Lua já que meu quadril era razoavelmente aberto. Eu precisava muito do benefício energético dessa sequência.
C. Posturas em pé e força nas pernas. Depois de ter trabalhado pela maior parte da primeira série e eventualmente começando a série intermediária e, possivelmente, seguindo pela série avançada alguns anos depois, apesar de todas as possíveis variações que você pode fazer nas posturas sentadas, não há variações que são tradicionalmente permitidas nas posturas em pé da Ashtanga. Muitos praticantes, se não a maioria, se tornam fortes na parte superior do corpo, constroem força central (“core strength”), e em comparação uns poucos se tornam fortes nas pernas. As posturas em pé são frequentemente passadas por cima nas práticas diárias, aumentando a tendência de pernas mais fracas e membros superiores mais fortes. Isso está claramente desequilibrado. Uma variação regular da sequência em pé é útil e ideal. Apesar de não ser estritamente “necessária” é muito melhor se você fizer!
D. A lateral do corpo – a área que vai debaixo da axila até o lado do quadril e nádegas. Existem poucas posturas na Ashtanga que trabalham consistentemente com a lateral do corpo, tanto na flexibilidade como na força – por exemplo, algumas posturas em pé como Parighasana na Intermediária e Vasisthasana na Avançada A. Ganhando uma consciência maior, flexibilidade e força na lateral do seu corpo é parte integral de uma prática completa de Yoga.
5. Um último aspecto que Ashtanga Yoga não utiliza, e que eu apenas parcialmente utilizo nos meus ensinamentos, é o uso de movimentos circulares. Sejam eles baseados em algum tipo contemporâneo de dança, ou Chi Gung ou outro tipo de prática chinesa.
A mudança; Tradição x Exploração
Praticantes de Ashtanga tendem a ser mais consistentes e, para conseguir praticar 5 ou 6 vezes por semana eles tendem a ser um pouco insistentes também, pelo menos nos primeiros anos. Ashtanga atrai o tipo pessoa mais obstinado e causa a maioria dos alunos a pender nessa direção. Ashtanga atrai pessoas de constituição mais magra, do tipo vata e tende a mudar os alunos na direção desse tipo de constituição. O fato infortúnio é que, quanto mais magro, mais fácil é fazer 95% das posturas. A coisa importante a se considerar é que um pouco disso é bom, excesso não é. Aceite a sua constituição e a sua experiência; permita que mudanças aconteçam, ao invés de tentar controlar os resultados.
Hoje em dia é geralmente aceito que o professor T. Krishnamacharya inventou o grosso da sequência Ashtanga, emprestando muitas ideias do treinamento de ginástica ocidental. Eu acho isso uma coisa ótima, ele inventou algo de muito valor ao mesmo tempo em que ainda aderia a vários aspectos tradicionais da Yoga. É a Yoga para os homens e mulheres modernos. Desde os tempos de Krishnamachaya, Pattabhi Jois modificou, refinou e
adaptou a sequência à suas necessidades e, eu acredito, às necessidades particulares de alunos ocidentais que vieram aprender com ele. Apesar da negações de que a série sofreu alterações desde aquela época, é óbvio que ela mudou. Eu espero que ela continue a mudar - porque se eu mudar, e ela mudar, nós dois viajaremos e evoluiremos lado a lado.
Do modo que eu vejo, ao longo dos últimos 20 anos, a tradição Ashtanga tem se tornado mais puritana, severa e hierárquica. Mesmo isso não sendo verdade em todos os casos, num grupo grande de professores e alunos, comparado com a forma que era quando eu comecei a estudar, a rigidez é maior. Do outro lado do espectro, eu vejo uma grande variação no método de Vinyasa Yoga que está sendo ensinado no planeta. Levando-se em conta que o grosso da Vinyasa Yoga tem ramificações com a Ashtanga Yoga, para realmente compreender qualquer um deles significaria abraçar os dois.
Existem mais e mais praticantes de Yoga ao redor do planeta - alguns que se vêem como tradicionalistas e alguns não.. Os tradicionalistas tendem a ser mais formais, disciplinados e severos, mas tendem a ter uma experiência mais aprofundada em suas áreas do que um não tradicionalista. Os não tradicionalistas tendem a ser mais abertos como pessoas, gentis e menos dogmáticos. Se observarmos qualquer religião antiga, nós podemos notar que historicamente existe a mesma tendência. Realmente, todas as sociedades e culturas seguem esse mesmo modelo: um centro duro e uma periferia expansível.
Essa é uma verdade básica de todo método, tradição, religião e cultura no planeta. Para qualquer uma delas se manter dinâmica e estável ao mesmo tempo, é necessário abraçar ambas as polaridades – todo sistema precisa evoluir, do contrário ele se torna estagnado. Todo sistema precisa de estabilidade, da qual as mudanças possam florescer.
Não é uma questão de certo ou errado, mas sim em poder se questionar: em qualquer que seja o seu lugar nesse espectro, é possível abraçar ambas as suas pontas? Você está mais próximo do centro tradicional, mas nega e subestima a importância daqueles que mudam, exploram e adaptam? Ou está mais próximo da periferia, descobrindo novos caminhos e expandindo horizontes, mas acha difícil aceitar a força e clareza daqueles mais próximos do centro? Abrace a tudo isso e você abraçará seu potencial, em sua totalidade.
Pratique com amor.
Matthew Sweeney
Natural da Austrália, seu conhecimento em yoga abrange 24 anos de prática e 18 anos de ensino. Sua formação inclui massagem Shiatsu, Yoga Terapia, Iyengar e Ashtanga Yoga. Seu métodos de ensino combina a tradição do Ashtanga Yoga com as necessidades terapêuticas de cada aluno, fornecendo uma abordagem individual para o método Mysore.
tradução: Denis Shimada
URL original: http://loveyogaanatomy.com/the-evolution-of-ashtanga-yoga/
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Falta de flexibilidade, um impedimento?
"Cara professora Helena:
Li uma matéria sobre a escola Ashtanga Vinyasa Yoga na Revista Yoga Journal de jul/ago de 2011, na qual vc comenta sobre as mudanças em curso e o estilo dessa escola. [...] Estou tentando desacelerar e investir mais no autoconhecimento. Pratico yoga em casa, mas ainda não consegui manter a regularidade. É meta deste ano.
Tenho 39 anos e bem pouca flexibilidade. Algumas posturas não consigo fazer de jeito nenhum. Isso me desestimula um pouco. Na referida matéria, você comenta algo como tirar o foco das posturas e entendê-las como meio e não fim. Para um principiante soou-me um alívio. Alguma dica relevante pra quem está nos primeiros passos?
Você sugere algum livro ou site para me aprofundar a respeito desse aspecto?Você faz curso de formação de professores ou de aperfeiçoamento para alunos?Denis"
"Olá Denis, grata pela mensagem.
A meu ver é essencial termos em mente que esta técnica, o Ashanga Vinyasa Yoga, é primordialmente uma prática de respiração: respiração em movimento.
Oferecemos diferentes posições, ou ângulos corporais, para que a respiração se mova desobstruindo sutilmente os bloqueios físicos e energéticos.
As posturas corporais (ásanas) são agrupadas em uma ordem específica (as chamadas "séries") de modo bem inteligente: um ásana a preparar o corpo para o seguinte, e assim por diante.
Gradualmente vamos memorizando a sequência e compreendendo a forma (vinyasa) correta de entrar e sair de casa posição. É preciso familiarizar-se com a postura e fazê-la com certa proficiência e segurança antes de seguirmos para o ásana seguinte. A conclusão da primeira série se dá lentamente e cada praticante a desenvolverá de acordo com sua capacidade e dedicação.
Passado o primeiro momento (onde há maior labor físico, desintoxicação orgânica e memorização das sequências), podemos nos debruçar sobre aspectos mais sutis dessa técnica buscando, por exemplo, suavizar a respiração e mantê-la potente e homogênea durante TODA a prática; trabalhar a retração dos sentidos, trazendo o foco da mente exatamente para o que se está a executar; observar os padrões mentais, etc. Desta forma vamos convertendo todo o processo em uma prática de concentração/meditação em movimento.
Podemos concluir portanto que a forma externa dos ásanas não é tão importante quanto os acontecimentos internos. Praticar Yoga é ampliar a presença, concentração, a amorosidade com o próprio corpo e suas atuais limitações.. sim, é também uma prática de purificação orgânica, que tonifica os músculos e promove a elasticidade dos tecidos porém o que nos interessa, afinal, é diminuir ou cessar as flutuações e oscilações de nossas mentes e, para este fim, o corpo é o instrumento.
Curso de formação
em Ashtanga Vinyasa Yoga tradicionalmente é apenas oferecido pelo
instituto http://kpjayi.org/, hoje dirigido por R.
Sharath Joys e localizado em
Mysore, Índia. Foi ali que obtive a autorização para ensinar,
após frequentar por alguns meses anualmente.
Vale
salientar que Yoga é uma disciplina extremamente profunda e
seremos eternamente estudantes. São necessários muitos anos de prática
para que comecemos a compreender um pouco tudo aquilo que Yoga não
é.
Helena".
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
sábado, 17 de novembro de 2012
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
terça-feira, 21 de agosto de 2012
14
de julho, 2012.
Portugal.
Ashtanga
Yoga, praia, sol, violão.
A
onda vem... e, segundos depois, dois dedos da mão fraturados em três
pontos,
Susto,
sangue, dor, hospital, operação, remédios.
Dois
pinos de aço a sustentar os ossos por três semanas. Ou quatro.
E
a prática, as aulas a conduzir, as canções que tenho para cantar?
Como lavar os cabelos, a louça, carregar as compras, cuidar do lar?
Subitamente
a viagem se transforma, mudando em ritmo e tom.
São
momentos como este que nos apresentam o trabalho feito até então.
Minha
prática diária de ásanas caminhava fluida e sólida, o corpo se
tornara disponível e flexível. Era o momento de flexibilizar minha
mente, trabalhar a aceitação, adaptar-me às novas circunstâncias e
relacionar-me com as condições atuais.
Apesar
da saudades que senti das práticas naqueles dias, que interessante
foi descobrir que não há vícios nessa nossa relação! Poder
enxergar o yoga acontecendo em todos os instantes. Não há
dependência nessa disciplina com a qual escolho me comprometer.
Passei
dias contemplativos a explorar minhas novas possibilidades e
observando minhas sensações. Nas aulas, descobri ser possível usar
o tronco e o ante-braço para ajudar naquilo que antes fazia com as
mãos.
De
partida para Índia, uma das alunas me agradece pela convivência,
dizendo: “mesmo com uma mão a menos me ajudaste mais do que muitos
professores com todos os 10 dedos”.
Agradeço
por tudo.
Na
semana seguinte pude voltar à prática, desenvolvendo uma série de
adaptações.
Lá
estão meus pulmões, a respirar com a mesma profundidade e calma. De
mãos dadas com a respiração, vou me relacionando com os
“obstáculos”, transformados simplesmente em circunstância.
Nas
semanas seguintes lentamente fui voltando a apoiar a mão no chão e
dentro de 3 semanas retorno
completamente à
primeira série do método Ashtanga. Pouco a pouco o tônus vai
voltando das férias forçadas. Faz-se necessário maior esforço
físico, mas o templo para onde me dirijo é o mesmo de sempre.
Vou
me sentindo pronta para novos desafios físicos e ásanas mais
avançados, sempre a observar a linha tênue que separa a
preguiça da prudência.
Este
episódio, como tantos outros, é a tradução de que a prática de
yoga está para os momentos da vida em que estamos fora do tapete.
Ensina a nos relacionarmos com os eventos que enfrentamos e
convida-nos a transportar as mesmas atitudes de ahimsa (não-violência), vairagya (desapego), asteya (não cobiça) e upeksha (equanimidade). Momentos para se pôr em
prática tudo aquilo que a prática (de ásanas) vem nos
despertando e exigindo de nós.
No
final da travessia, a calma, a cura, e a certeza de estar mais forte,
humilde, atenta e comprometida com esta senda, por amor.
domingo, 5 de agosto de 2012
sexta-feira, 22 de junho de 2012
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Drishtis: reeducando os órgãos dos sentidos
Drishtis
são pontos focais específicos em que nos empenhamos durante a
meditação ou prática de asanas.
Os
antigos yoguis descobriram que, para onde nosso olhar é direcionado,
nossa atenção dirige-se naturalmente. Nossa qualidade de foco
determina também nosso estado mental, ou a qualidade de nossos
pensamentos. Quando o olhar é dirigido e fixado a um só ponto, a
mente diminui a resposta a estímulos externos.
Trazendo
o foco para nosso próprio corpo, nosso próprio campo espacial, a
consciência se move para dentro e a mente permanece menos sujeita a
estímulos externos. Através desta prática, além de aprimorarmos a
concentração,
aumentamos a circulação sanguínea no local, estimulando e
revitalizando músculos e nervos óticos,
A
prática de drishtis deve ser introduzida lenta e suavemente, sem
forçar o olhar nem tencionar os lábios, a língua, os músculos da
face ou garganta. De início pode ocorrer uma leve tontura e até
mesmo dores de cabeça, decorrentes da alteração da referência
espacial que o olhar nos propicia.
Com a prática constante, o foco nos drishtis torna-se então uma ferramenta contra distrações. Evitando olhar para o lado nos abstemos de sentimentos de comparação ou competitividade. Ao controlar o olhar e observar o que nos instiga a conduzi-lo (sons, pessoas, odores, etc) vamos aprimorando Pratyahara, o controle dos sentidos.
Como uma suave reeducação destes instrumentos, nos apropriamos de nossos órgãos sensoriais, utilizando-os na promoção de uma mente mais serena e equânime.
No Ashtanga Vinyasa Yoga 8 drishtis principais são utilizados :
Nasagrai Drishti – Foco do olhar na ponta do nariz (usado, por exemplo, em Samasthittih e Chaturanga Dandasana).
Angustha
Ma Dyai Drishti – Foco do olhar nos polegares
(usado, por exemplo, em Virabhadrasana
I).
Nabhi
Chacra Drishti – Foco do olhar no umbigo (usado, por
exemplo, em Adho Mukha).
Parayoragrai
Drishti – Foco do olhar nos dedos dos pés (usado,
por exemplo, na maioria das flexões a frente sentado).
Hastagrai
Drishti – Foco do olhar nas mãos (usado, por
exemplo, em Utthita Trikonasana
e Virabhadrasana II).
Parsva
Drishti – Foco do olhar para longe
à direita ou à esquerda (usado, por exemplo, em Marichyasa C e D)
Urdhva
Drishiti (ou Antara
drishti
)
–
Foco do olhar para cima (usado, por exemplo, em Ubhaya
Padangusthasana).
Broomadhya
Drishti
– Foco no terceiro olho (Ajna Chakra), entre as sobrancelhas
(usado, por exemplo, em
Urdhva
Mukha Svanasana).
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