sexta-feira, 12 de abril de 2013

A Evolução do Ashtanga Yoga - por Matthew Sweeney

Ashtanga Yoga é uma prática maravilhosa para a mente e para o corpo. É uma prática que está sempre evoluindo e que muda e cresce para se ajustar à pessoas de todas as idades e habilidades. Ao menos este é seu potencial. Tradição e suas naturais mutações podem ser coisas difíceis de conciliar.

Este é um problema existente em todas as tradições. Sendo assim, entender alguns princípios em funcionamento é algo importante. Na maioria das aulas de Ashtanga, nós começamos com respiração e vinyasa, os movimentos na Saudação ao Sol. Eventualmente nós avançamos no aprendizado com posturas em pé, geralmente na ordem tradicional e depois as posturas sentadas, um ou dois ásanas por vez.

Em algum momento deste processo o aluno vai ter dificuldades (físicas ou de algum outro tipo) e vai precisar de encorajamento para continuar, para focar na técnica tradicional, ou será necessário receber alguma alternativa a fim de facilitar sua prática.

Essa escolha básica é verdadeira para todas as práticas, seja ela de ásanas, meditação ou alguma outra coisa. Você se atém a técnica e tradição, ou  faz variações? Em que momento a variação é apropriada? Minha opinião sobre isso é simples – não é uma questão de se você deve fazer variações na tradição (qualquer tradição) mas sim, de quando. Em termos de evolução humana e desenvolvimento holístico, mais cedo ou mais tarde, qualquer técnica ou tradição que você aderir se torna limitante, e faz o seu potencial diminuir. Para adotar uma perspectiva espiritual verdadeira você precisará ultrapassar um método singular, ou uma visão unidimensional.

Uma coisa que eu tenho observado é que, dependendo de quando você iniciou suas práticas de Ashtanga Yoga, você provavelmente tem uma atitude diferente sobre o que tradição realmente significa. A maioria dos professores que aprenderam nos anos 60, 70 e 80 não ensina de forma tão rigorosa como os que aprenderam depois dos anos 90. A tradição mudou, as sequências mudaram e o estilo de ensino mudou. Existem boas e não tão boas razões para isso. Por exemplo, existem vantagens de se fazer menos saltos para trás do que se ensina hoje em dia, vantagens na alteração de algumas sequências e na intensidade da prática de um dia para outro. Cabe a nós definir quais são as vantagens e quais são as desvantagens.

Para mim é simplesmente uma questão de momento, de quando é apropriado introduzir tradição – a série intermediária, por exemplo, ou uma alternativa como Vinyasa Krama, ou Yin Yoga ou meditação. Eu normalmente não introduziria uma alternativa nos primeiros seis meses do aprendizado de Ashtanga, ou até mesmo muito mais tarde. Após a fase inicial do aprendizado é mais importante levar em consideração as necessidades do estudante do que seguir cegamente a tradição. É importante considerar se Ashtanga tradicional é apropriada (e muitas vezes pode não ser) e observar se você não ensina uma alternativa por medo, rigidez ou inabilidade.

Eu acho curioso que eu sou um dos poucos professores de Ashtanga tradicional que ativamente abraça sequências diferentes e encoraja estudantes a praticá-las – sem abandonar a Ashtanga tradicional. Eu utilizo sequências alternativas para assistir e engrandecer a prática da Ashtanga, e não para trocá-la completamente. Isso tem mais a ver com o que é apropriado e prático do que com fé cega, dogma, ou com fazer coisas aleatoriamente simplesmente por que eu quero – apesar de, sinceramente, essa última razão ser bastante útil às vezes. Sequências alternativas podem engrandecer o método Ashtanga sem alterá-lo, ou ameaçar sua forma e função.

É importante aceitar que métodos de ensinamento irão variar de pessoa para pessoa – todos nós vamos ensinar de forma diferente e com um entendimento diferente do que é apropriado. Por que as sequências do Ashtanga são tratadas como uma vaca sagrada? É uma prática maravilhosa, mas são apenas sequências de ásanas no fim do dia. Não existe nada originalmente espiritual ou sagrado sobre elas. Eu certamente acredito que manter a tradição (seja ela o que for) é realmente recompensador e absolutamente apropriado para a maioria dos alunos, por um determinado tempo. Apenas não para todos e, certamente, não para sempre.

Ashtanga Vinyasa Yoga é um sistema relativamente novo, apesar de opiniões contrárias.
À parte das evidências de que as sequências tenham sido modificadas no decorrer dos anos por Pattabhi Jois (geralmente para melhor, em minha opinião), a maioria concordaria que o professor T. Krishnamacharya (professor de K.P.Jois) inventou o sistema durante seus anos no Mysore Yoga Palace – e foi muito influenciado pela tradição da ginástica ocidental. Eu considero isso inspirador. Ele uniu conceitos da sua experiência tradicional e fez algo novo, vibrante e útil para pessoas ao redor do globo.

É somente recentemente que estamos vendo praticantes comprometidos de Ashtanga Vinyasa praticando por mais de vinte ou trinta anos. A evidência do que realmente funciona, particularmente a longo prazo, ainda está emergindo. O que é interessante é que um dos temas comuns na interrupção da prática de Ashtanga é que se ela for aplicada de forma muito rígida, se torna desnecessariamente difícil e, muito frequentemente, causadora de lesões. Estar aberto para alguma experimentação e ao conceito original do Instituto de Pesquisa de Ashtanga Yoga (Mysore) é algo que ainda deveria ser aplicado a todos os professores e
praticantes.

O que torna Ashtanga Yoga único?
As séries da Ashtanga são únicas em vários aspectos:

1. Ashtanga Yoga é, até hoje, a única prática de Yoga que desenvolve igualmente força e flexibilidade. É interessante que todos os outros métodos de ásanas no planeta, até onde eu sei, não enfatizam força na mesma medida que flexibilidade. Existe um preconceito em favor da flexibilidade. Em alguns casos isso é apropriado (na Yin Yoga, por exemplo) mas, de forma geral eu acho isso desequilibrado. Por que flexibilidade é mais importante que força? Obviamente que não. Um sem o outro é desequilíbrio, físico e mental.

2. Outro aspecto que o Ashtanga oferece, e nenhum outro método oferece, é a ênfase na prática. Em nenhuma outra técnica existe tamanha ênfase na prática – apesar de críticas sobre alguns professores de Ashtanga, válidas ou não, quanto aos 99% prática, 1% teoria (conhecida frase proferida por Pattabhi Jois). Além disso, exige-se comprometimento e experiência enormes para ensinar no estilo Mysore e, ainda mais comprometimento e experiência para fazê-lo bem. É muito mais fácil ensinar aulas guiadas, e geralmente também mais recompensador financeiramente.

A prática individual é a única forma de experienciar um estado verdadeiramente meditativo durante a performance dos Ásana. Por que será que não há quase professores do método Iyengar montando grupos de prática supervisionada individualmente – e ensinando para os alunos, não apenas praticando com eles? O mesmo vale para aulas de Vinyasa, Bikram Yoga, Anusara Yoga, Hatha Yoga, Sivananda Yoga etc. Prática supervisionada individualmente  é o caminho para ir mais adiante.

Na Índia eu encontrei apenas alguns professores de Hatha Yoga e Iyengar que conduzem aulas no formato supervisionado (com instrução individual). Cada um era maravilhosamente habilidoso e realizado no seu próprio jeito, e capaz de trabalhar com um grupo diverso de alunos fazendo ásanas aparentemente aleatórios, de forma independente. É preciso muito mais disciplina e habilidade para ensinar aulas supervisionadas do que aulas guiadas. Ensinar aulas supervisionadas muito bem também exige muito mais compaixão.

3. Ashtanga Yoga frequentemente aparenta facilitar resultados físicos mais rápidos do que outros métodos. Em razão do equilíbrio entre força e flexibilidade e a prática de 5-6 vezes por semana, Ashtanga transforma o corpo. Tenha em mente que em alguns casos os resultados podem ser negativos – uma ênfase demasiada na leveza física, perda de peso corporal e rigidez mental. Só porque você tem um corpo flexível não faz de você uma pessoa flexível!

O simples fato é que aderindo à sequência fixa do Ashtanga, embora necessário mais disciplina, os resultados são definitivos. Sem uma sequência fixa, sem algum tipo de comprometimento com sua própria prática, tanto os resultados do corpo como o foco da mente são, em geral, limitados. O principal benefício de uma sequência fixa é que ela te mantém honesto. Você é forçado a fazer posturas que são difíceis ou problemáticas, sem evitá-las ou fazendo apenas aquelas que você gosta ou que te fazem sentir bem. O problema é que se isso for aplicado com muita rigidez, você será forçado em uma postura que pode te causar lesões. Evitar posturas difíceis ou problemáticas é um erro enorme, especialmente com estilos de Yoga que não trabalham com sequências fixas. Tanto os praticantes novatos como os avançados podem cair nessa armadilha, que leva a beneficiar suas forças e evitar suas fraquezas, o que por sua vez, leva a um desequilíbrio maior.

4. Ajustes. Eu acredito que uma das melhores habilidades que a maioria dos professores de Ashtanga tem é comunicar a prática através das suas mãos. A maioria faz ótimos ajustes, ambora alguns fazerem ajustes em demasia ou com muita força. Mais uma vez, se isso for feito com muita rigidez pode levar a lesões. Isso é algo que penso faltar na maioria dos outros sistemas, apesar de que isso ocorra basicamente pelo fato das aulas serem guiadas, e não supervisionadas individualmente: é mais fácil fazer ajustes em aulas do estilo Mysore porque você tem mais tempo para observar, ao invés da necessidade de falar o tempo todo.

5. Observação dos dias lunares. Ashtanga Yoga é um dos únicos sistemas que eu conheço que deliberadamente segue os ciclos lunares e que nos ensina a prestar atenção a eles e como afetam nosso corpo.

Algumas deficiências do método Ashtanga

Algumas observações que fiz ao longo dos anos me mostram onde Ashtanga Yoga está potencialmente desequilibrado. Isso não é uma crítica severa ao método ou à sequência – eu amo Ashtanga Yoga e ainda pratico as séries. Elas têm me servido bem e continuam a fazê-lo.

1. Qualidade de energia Rajasica, baseada no Surya. A prática Ashtanga é particularmente aquecedora e elevadora em sua natureza (por isso, mais masculina na sua energia) e tende a uma qualidade Rajasica de prática. Isso não é um julgamento de certo ou errado – mesmo porque existem qualidades boas e ruins em todas as técnicas e em todas as pessoas. É fútil tentar excluir Ashtanga dessa condição humana. Por exemplo, a energia Surya da prática é elevada através da natureza linear da adesão às sequências e à tradição, fazer
o lado direito na maioria das posturas, e focar em elevar constantemente com os três Bandhas. Não me surpreende  que os estudantes que mais negam o efeito Rajasico do Ashtanga são os que mais se encontram presos por essa qualidade.

Etimologicamente, Surya e Rajas são sinônimos, como o caso de Chandra e Tamas. Surya é Sol e Rajas é ativo. Chandra é Lua e Tamas é inativo. A combinação de Sol e Lua, masculino e feminino, é Sattva ou ritmo verdadeiro e equilíbrio. Na maioria das práticas de Yoga modernas, Surya e leveza são conferidas como qualidades positivas e Tamas e peso são conferidas como qualidades negativas. Isso meramente indica o desequilíbrio de professores e estudantes que focam dessa forma. Ambos são importantes, nenhum é bom ou ruim. Por essa razão, há alguns anos atrás, eu comecei a ensinar à maioria dos meus alunos a sequência da Lua, uma combinação de sequência baseada no Yin e vinyasa gentil.

2. Ficar preso na Primeira Série. Na primeira série da Ashtanga existe muita ênfase em saltos que normalmente resultam em tensão nos ombros e pulsos. Existe muita ênfase em alongamentos e nos músculos e tendões da coxa que pode agravar muitos problemas de coluna. Essa sequência não enfatiza particularmente a flexibilidade dos ombros, pelo contrário, ela desenvolve ainda mais a força dos ombros.

É importante balancear cada aspecto do corpo: superior e inferior, força e flexibilidade. Nos primeiros anos de ensinamento de K. P. Jois, a primeira série não tinha tantos saltos, nem tantas posturas. Você não saltava para trás em ambos os lados e muitas posturas eram conectadas em grupos de três ou quatro com uma vinyasa depois de cada grupo. Esse método ainda é útil para muitos alunos, tanto novatos como avançados.

Um dos pontos chave da prática de ásanas é abrir o corpo; que por sua vez abre a mente. Mais cedo ou mais tarde sequências alternativas ajudam a abrir ainda mais o corpo do praticante depois da sequência fixa ter sido completamente explorada. Para alguns alunos isso pode acontecer no meio da Avançada A (terceira série) e para muitos alunos isso pode acontecer em algum momento da primeira série. Como a maioria dos seres humanos não consegue praticar a primeira série toda, muito menos a Intermediária, é mais uma questão de quando mudar a sequência. Um benefício chave de sequências e posturas alternativas é que a prática pode ser customizada para necessidades individuais, ao contrário de se assumir que uma ou outra sequência possa ser universalmente aplicada a todos os praticantes.

Cada um de nós tem uma ideia diferente sobre o que é tradição. Então, empiricamente, é impossível que todos ensinem o mesmo. Cada professor que eu conheço pratica e ensina a sequência com algum tipo de variação da tradição (seja respiração, alinhamento, ou postura). É simplesmente uma questão de grau de intensidade. Além disso, fisicamente, Ashtanga Yoga não serve para todo mundo. Não é possível ensinar todo mundo, apesar do que podem dizer alguns professores. Se você considerar a verdade disso, portanto, é uma responsabilidade para o professor tentar aprender o que for preciso para se capacitar a ensinar qualquer pessoa. De outra forma, não é Yoga e é muito limitado.

Por exemplo, como você ensina alguém sem um braço ou em uma cadeira de rodas? Ou com esquizofrenia? Apesar de eu acreditar que a devoção e entrega à prática (e à tradição e ao professor) são muito importantes, é ainda mais importante se entregar ao seu propósito superior, o bem maior, a consciência superior. Mais cedo ou mais tarde isso tem que levar além da abordagem tradicional, caso contrário você estará preso.

3. Falta de conselho técnico. O professor clássico, tradicional de Ashtanga não ensina aulas de técnica – isso não é bem visto em Mysore. Conselhos de como chegar a certas posturas, detalhamento de alinhamento, e conselhos técnicos, simplesmente não fazem parte do sistema. É claro que a maioria dos professores oferece uma palavra tímida aqui ou ali numa aula do estilo Mysore, mas raramente isso é feito para o grupo como um todo. Como resultado muitos praticantes de Ashtanga veteranos permanecem desinformados de muitos detalhes pertinentes que poderiam ser úteis. Tendo dito isso, uma vantagem da falta do componente técnico é que isso
leva a uma devoção, entrega e aprendizado experimental maior. Você pode praticar com introspecção e fazer uma prática para você mesmo, sem muita interferência externa. Pessoalmente, eu acho que o ideal é o equilíbrio – tempo para praticar sem interrupção e tempo para explicação clara e específica. Um bom professor deve
permitir ambos.

4. Seguindo o ponto 3, aqui estão alguma áreas estruturais que frequentemente precisam de mais participação.

A. Ombros e sequência lombar superior. Minha maior crítica estrutural da Ashtanga e de muitas aulas de Hatha Yoga é que a maioria dos professores não passa muito tempo desenvolvendo a abertura dos ombros e da lombar superior. Isso é tão importante quanto qualquer outra área. Por exemplo, abertura dos quadris e
flexibilidade na lombar inferior são enfatizadas muito mais, tanto na Ashtanga como em aulas de Hatha Yoga. Eu frequentemente passo uma sequência de ombros como lição de casa para alunos de Ashtanga e, às vezes, introduzo junto da primeira série.

B. Variações para o quadril. Depois de ensinar a sequência da Lua para muitos alunos de Ashtanga, que tem mais variações para o quadril, eu percebi muitos deles aliviados e animados de poder acrescentar isso aos seus repertórios. A sequência da Lua aparenta fazer com que muitos aspectos da primeira série sejam mais acessíveis – ambos física e psicologicamente. Eu fui capaz de introduzir a primeira série para alguns alunos que não teriam sido introduzidos se eles não tivessem entrado em contato com a sequência da Lua antes. Por exemplo, muitas posturas de abertura de quadril desta sequência tiram pressão dos joelhos, aliviando
 eclamações comuns da Ashtanga Yoga. Para a minha própria prática, eu não precisei muito disso quando comecei a elaborar a sequência da Lua já que meu quadril era razoavelmente aberto. Eu precisava muito do benefício energético dessa sequência.

C. Posturas em pé e força nas pernas. Depois de ter trabalhado pela maior parte da primeira série e eventualmente começando a série intermediária e, possivelmente, seguindo pela série avançada alguns anos depois, apesar de todas as possíveis variações que você pode fazer nas posturas sentadas, não há variações que são tradicionalmente permitidas nas posturas em pé da Ashtanga. Muitos praticantes, se não a maioria, se tornam fortes na parte superior do corpo, constroem força central (“core strength”), e em comparação uns poucos se tornam fortes nas pernas. As posturas em pé são frequentemente passadas por cima nas práticas diárias, aumentando a tendência de pernas mais fracas e membros superiores mais fortes. Isso está claramente desequilibrado. Uma variação regular da sequência em pé é útil e ideal. Apesar de não ser estritamente “necessária” é muito melhor se você fizer!

D. A lateral do corpo – a área que vai debaixo da axila até o lado do quadril e nádegas. Existem poucas posturas na Ashtanga que trabalham consistentemente com a lateral do corpo, tanto na flexibilidade como na força – por exemplo, algumas posturas em pé como Parighasana na Intermediária e Vasisthasana na Avançada A. Ganhando uma consciência maior, flexibilidade e força na lateral do seu corpo é parte integral de uma prática completa de Yoga.

5. Um último aspecto que Ashtanga Yoga não utiliza, e que eu apenas parcialmente utilizo nos meus ensinamentos, é o uso de movimentos circulares. Sejam eles baseados em algum tipo contemporâneo de dança, ou Chi Gung ou outro tipo de prática chinesa.

A mudança; Tradição x Exploração

Praticantes de Ashtanga tendem a ser mais consistentes e, para conseguir praticar 5 ou 6 vezes por semana eles tendem a ser um pouco insistentes também, pelo menos nos primeiros anos. Ashtanga atrai o tipo pessoa mais obstinado e causa a maioria dos alunos a pender nessa direção. Ashtanga atrai pessoas de constituição mais magra, do tipo vata e tende a mudar os alunos na direção desse tipo de constituição. O fato infortúnio é que, quanto mais magro, mais fácil é fazer 95% das posturas. A coisa importante a se considerar é que um pouco disso é bom, excesso não é. Aceite a sua constituição e a sua experiência; permita que mudanças aconteçam, ao invés de tentar controlar os resultados.

Hoje em dia é geralmente aceito que o professor T. Krishnamacharya inventou o grosso da sequência Ashtanga, emprestando muitas ideias do treinamento de ginástica ocidental. Eu acho isso uma coisa ótima, ele inventou algo de muito valor ao mesmo tempo em que ainda aderia a vários aspectos tradicionais da Yoga. É a Yoga para os homens e mulheres modernos. Desde os tempos de Krishnamachaya, Pattabhi Jois modificou, refinou e
adaptou a sequência à suas necessidades e, eu acredito, às necessidades particulares de alunos ocidentais que vieram aprender com ele. Apesar da negações de que a série sofreu alterações desde aquela época, é óbvio que ela mudou. Eu espero que ela continue a mudar - porque se eu mudar, e ela mudar, nós dois viajaremos e evoluiremos lado a lado.

Do modo que eu vejo, ao longo dos últimos 20 anos, a tradição Ashtanga tem se tornado mais puritana, severa e hierárquica. Mesmo isso não sendo verdade em todos os casos, num grupo grande de professores e alunos, comparado com a forma que era quando eu comecei a estudar, a rigidez é maior. Do outro lado do espectro, eu vejo uma grande variação no método de Vinyasa Yoga que está sendo ensinado no planeta. Levando-se em conta que o grosso da Vinyasa Yoga tem ramificações com a Ashtanga Yoga, para realmente compreender qualquer um deles significaria abraçar os dois.

Existem mais e mais praticantes de Yoga ao redor do planeta - alguns que se vêem como tradicionalistas e alguns não.. Os tradicionalistas tendem a ser mais formais, disciplinados e severos, mas tendem a ter uma experiência mais aprofundada em suas áreas do que um não tradicionalista. Os não tradicionalistas tendem a ser mais abertos como pessoas, gentis e menos dogmáticos. Se observarmos qualquer religião antiga, nós podemos notar que historicamente existe a mesma tendência. Realmente, todas as sociedades e culturas seguem esse mesmo modelo: um centro duro e uma periferia expansível.

Essa é uma verdade básica de todo método, tradição, religião e cultura no planeta. Para qualquer uma delas se manter dinâmica e estável ao mesmo tempo, é necessário abraçar ambas as polaridades – todo sistema precisa evoluir, do contrário ele se torna estagnado. Todo sistema precisa de estabilidade, da qual as mudanças possam florescer.

Não é uma questão de certo ou errado, mas sim em poder se questionar: em qualquer que seja o seu lugar nesse espectro, é possível abraçar ambas as suas pontas? Você está mais próximo do centro tradicional, mas nega e subestima a importância daqueles que mudam, exploram e adaptam? Ou está mais próximo da periferia, descobrindo novos caminhos e expandindo horizontes, mas acha difícil aceitar a força e clareza daqueles mais próximos do centro? Abrace  a tudo isso e você abraçará seu potencial, em sua totalidade.

Pratique com amor.

Matthew Sweeney
Natural da Austrália, seu conhecimento em yoga abrange 24 anos de prática e 18 anos de ensino. Sua formação inclui massagem Shiatsu, Yoga Terapia,  Iyengar e Ashtanga Yoga. Seu métodos de ensino combina a tradição do Ashtanga Yoga com as necessidades terapêuticas de cada aluno, fornecendo uma abordagem individual para o método Mysore.

tradução: Denis Shimada
URL original: http://loveyogaanatomy.com/the-evolution-of-ashtanga-yoga/