14
de julho, 2012.
Portugal.
Ashtanga
Yoga, praia, sol, violão.
A
onda vem... e, segundos depois, dois dedos da mão fraturados em três
pontos,
Susto,
sangue, dor, hospital, operação, remédios.
Dois
pinos de aço a sustentar os ossos por três semanas. Ou quatro.
E
a prática, as aulas a conduzir, as canções que tenho para cantar?
Como lavar os cabelos, a louça, carregar as compras, cuidar do lar?
Subitamente
a viagem se transforma, mudando em ritmo e tom.
São
momentos como este que nos apresentam o trabalho feito até então.
Minha
prática diária de ásanas caminhava fluida e sólida, o corpo se
tornara disponível e flexível. Era o momento de flexibilizar minha
mente, trabalhar a aceitação, adaptar-me às novas circunstâncias e
relacionar-me com as condições atuais.
Apesar
da saudades que senti das práticas naqueles dias, que interessante
foi descobrir que não há vícios nessa nossa relação! Poder
enxergar o yoga acontecendo em todos os instantes. Não há
dependência nessa disciplina com a qual escolho me comprometer.
Passei
dias contemplativos a explorar minhas novas possibilidades e
observando minhas sensações. Nas aulas, descobri ser possível usar
o tronco e o ante-braço para ajudar naquilo que antes fazia com as
mãos.
De
partida para Índia, uma das alunas me agradece pela convivência,
dizendo: “mesmo com uma mão a menos me ajudaste mais do que muitos
professores com todos os 10 dedos”.
Agradeço
por tudo.
Na
semana seguinte pude voltar à prática, desenvolvendo uma série de
adaptações.
Lá
estão meus pulmões, a respirar com a mesma profundidade e calma. De
mãos dadas com a respiração, vou me relacionando com os
“obstáculos”, transformados simplesmente em circunstância.
Nas
semanas seguintes lentamente fui voltando a apoiar a mão no chão e
dentro de 3 semanas retorno
completamente à
primeira série do método Ashtanga. Pouco a pouco o tônus vai
voltando das férias forçadas. Faz-se necessário maior esforço
físico, mas o templo para onde me dirijo é o mesmo de sempre.
Vou
me sentindo pronta para novos desafios físicos e ásanas mais
avançados, sempre a observar a linha tênue que separa a
preguiça da prudência.
Este
episódio, como tantos outros, é a tradução de que a prática de
yoga está para os momentos da vida em que estamos fora do tapete.
Ensina a nos relacionarmos com os eventos que enfrentamos e
convida-nos a transportar as mesmas atitudes de ahimsa (não-violência), vairagya (desapego), asteya (não cobiça) e upeksha (equanimidade). Momentos para se pôr em
prática tudo aquilo que a prática (de ásanas) vem nos
despertando e exigindo de nós.
No
final da travessia, a calma, a cura, e a certeza de estar mais forte,
humilde, atenta e comprometida com esta senda, por amor.