terça-feira, 21 de agosto de 2012


14 de julho, 2012.
Portugal.
Ashtanga Yoga, praia, sol, violão.
Não fazia questão.. mas por que não experimentar a primeira aula de surf?
A onda vem... e, segundos depois, dois dedos da mão fraturados em três pontos,
Susto, sangue, dor, hospital, operação, remédios.
Dois pinos de aço a sustentar os ossos por três semanas. Ou quatro.
E a prática, as aulas a conduzir, as canções que tenho para cantar? Como lavar os cabelos, a louça, carregar as compras, cuidar do lar?
Subitamente a viagem se transforma, mudando em ritmo e tom.
São momentos como este que nos apresentam o trabalho feito até então.
Minha prática diária de ásanas caminhava fluida e sólida, o corpo se tornara disponível e flexível. Era o momento de flexibilizar minha mente, trabalhar a aceitação, adaptar-me às novas circunstâncias e relacionar-me com as condições atuais.
Apesar da saudades que senti das práticas naqueles dias, que interessante foi descobrir que não há vícios nessa nossa relação! Poder enxergar o yoga acontecendo em todos os instantes. Não há dependência nessa disciplina com a qual escolho me comprometer.
Passei dias contemplativos a explorar minhas novas possibilidades e observando minhas sensações. Nas aulas, descobri ser possível usar o tronco e o ante-braço para ajudar naquilo que antes fazia com as mãos.
De partida para Índia, uma das alunas me agradece pela convivência, dizendo: “mesmo com uma mão a menos me ajudaste mais do que muitos professores com todos os 10 dedos”.
Agradeço por tudo.
Na semana seguinte pude voltar à prática, desenvolvendo uma série de adaptações.
Que saudades da “saudação ao sol”!
Lá estão meus pulmões, a respirar com a mesma profundidade e calma. De mãos dadas com a respiração, vou me relacionando com os “obstáculos”, transformados simplesmente em circunstância.
Nas semanas seguintes lentamente fui voltando a apoiar a mão no chão e dentro de 3 semanas retorno completamente à primeira série do método Ashtanga. Pouco a pouco o tônus vai voltando das férias forçadas. Faz-se necessário maior esforço físico, mas o templo para onde me dirijo é o mesmo de sempre.
Vou me sentindo pronta para novos desafios físicos e ásanas mais avançados, sempre a observar a linha tênue que separa a preguiça da prudência.
Este episódio, como tantos outros, é a tradução de que a prática de yoga está para os momentos da vida em que estamos fora do tapete. Ensina a nos relacionarmos com os eventos que enfrentamos e convida-nos a transportar as mesmas atitudes de ahimsa (não-violência), vairagya (desapego), asteya (não cobiça) e upeksha (equanimidade). Momentos para se pôr em prática tudo aquilo que a prática (de ásanas) vem nos despertando e exigindo de nós.
No final da travessia, a calma, a cura, e a certeza de estar mais forte, humilde, atenta e comprometida com esta senda, por amor.