Conheça o Ashtanga Yogi R. Sharath
Por Spiros Antonopoulos e publicado por Lime.com (http://lime.com) em 31/07/2006
Enquanto suas raízes estendem-se no tempo a um antigo sábio chamado Vamana Rishi, há aproximadamente 80 anos o sistema do Ashtanga Yoga foi passado a Sri K. Pattabhi Jois [1] pelo legendário yogi T. Krishnamacharya [2]. Desde 1948 Jois tem ensinado este disciplinado estilo de yoga no seu Ashtanga Yoga Research Institute [3], localizado em Mysore, sul da Índia, instruindo milhares de pessoas de todo o mundo.
R. Sharath [4] é o Diretor Assistente do Ashtanga Yoga Research Institute e neto de Sri K. Pattabhi Jois. Sharath é também o único aluno de Jois que completou as cinco primeiras séries do sistema do Ashtanga yoga e está aprendendo vários asanas da sexta e última série. Ele ensina yoga e vive em Mysore com sua esposa Shruthi e filha, Shraddha.
A palavra sânscrita “ashtanga” significa literalmente oito membros, que, de acordo com os Yoga Sutras de Patanjali, correspondem às oito distintas práticas projetadas como um meio de controlar a mente e purificar o ser interior: Yama (códigos morais), Niyama (auto-purificação e estudo), Asana (posições), Pranayama (controle respiratório), Pratyahara (controle dos sentidos), Dharana (concentração), Dhyana (meditação) e Samadhi (absorção).
O Ashtanga foca primeiramente numa prática diária de asanas para fortalecer e tornar flexíveis o corpo e órgãos do sentido, estado físico fundamental para firmar a mente. Asana é agrupado em seis séries diferentes: a Primeira (Yoga Chikitsa) desintoxica e alinha o corpo; a Intermediária (Nadi Shodhana) purifica o sistema nervoso; Avançadas A, B, C e D (Sthira Bhaga) integram força e equilíbrio e são curativas a muitas doenças profundas.
Nós falamos com Sharath na cidade de Nova York que, junto com sua mãe Saraswathi, esteve recentemente nos EUA para assistir Sri K. Pattabhi Jois numa série de workshops de yoga.
Qual é a diferença entre a maneira pela qual o yoga foi ensinado a você e a maneira que é ensinada no ocidente?
Meu avô tem ensinado alunos ocidentais pelos últimos 35 anos. Quando eu era criança, estrangeiros começaram a vir para Mysore, na Índia. Então desde aquele tempo eles têm aprendido de meu avô. O que estamos ensinando é o mesmo para indianos e para estrangeiros. Da mesma maneira que meu avô me ensinou, assim ele tem ensinado também aos estrangeiros.
O que está faltando nas práticas ocidentais?
Muitas pessoas acham que yoga é como uma ginástica, ou como ir a uma malhação, mas isso não é yoga. Hoje em dia virou moda fazer um curso de yoga por algo como um mês, e então você poderá dizer que se tornou um professor de yoga. Mas isso não é yoga. Yoga é espiritual. Você deve considerá-lo uma prática espiritual, não apenas exercício. Espiritual.
Asana (postura) é apenas um passo no caminho do yoga. Yoga realmente significa autoconsciência, auto-realização – este é o significado último do yoga. Não apenas fazer posturas. Esse é apenas um aspecto, mas é o fundamento para você realizar o que você é. Realizar a fonte, o que nós somos interiormente, isso é verdadeiramente yoga.
Eu acho bom que o yoga esteja crescendo em todo lugar, que pessoas queiram fazer yoga. Mas as pessoas deveriam procurar por autenticidade. Procure por um método de yoga que seja autêntico e vá à fonte para aprender. Por exemplo, o Ashtanga Yoga veio de Mysore, de Pattabhi Jois; e você deve ir até lá, às raízes, para aprender yoga.
Muitas pessoas vêm [a Mysore] por um ou dois meses e depois se tornam “grandes” professores no Ocidente, mas eles nunca aprendem sobre si mesmos. Seus self. Isso também é essencial na prática do yoga. Para aprender isso é muito importante achar um professor de yoga autêntico: alguém que saiba o real significado do yoga. Isso é muito importante.
Há alguma coisa que nós no Ocidente estamos pegando corretamente?
Yoga é tão poderoso que mesmo se você praticar sem pensar ou acreditar em qualquer coisa você ira se beneficiar. Se você estiver pensando que yoga é apenas exercício, ainda assim você terá benefícios. Mas você também pode cavar mais profundamente, pesquisar mais, e aprender sobre a filosofia do yoga, um processo que nunca termina. Você pode continuar a aprender por toda sua vida.
Também depende de como você pensa sobre o yoga. Algumas pessoas pensam que é apenas asana, exercício e prática. Ainda assim elas recebem os benefícios para a saúde. Alguns problemas se resolverão. Elas se tornam concentradas.
Muitas pessoas vieram a mim e disseram: “Eu comecei a praticar yoga e minha vida mudou.”. As pessoas podem melhorar todo seu estilo de vida.
Yoga muda sua vida. Não importa o quê ou como você pensa. O yoga já modificou tantas vidas, é por isso que ele está ficando cada vez mais popular.
Houve uma mudança no tipo de alunos Ocidentais, entre aqueles primeiros e os que vão a Mysore hoje em dia?
Hoje há mais alunos dedicados. Eles querem aprender mais. Muitos alunos estão se aprofundando no Sânscrito, na filosofia do yoga, e nos Vedas. Não todos eles – algo como vinte por cento dos praticantes que nós vemos. Mas esses vinte por cento, eles realmente querem saber: “O que é yoga?”.
A cultura indiana é totalmente diferente. Eu diria que a cultura Ocidental é oposta àquela.
Como?
Há muitas maneiras que nós nascemos numa família, numa casta e numa tradição. O Yoga nasceu na Índia, então é mais fácil para um indiano aprender sobre yoga, mas mesmo assim é difícil aprender yoga. E hoje em dia o ocidental está começando a entender o yoga, pelo menos aquele vinte por cento. Isso é muito bom, porque a cultura é totalmente diferente. E o yoga não impõe preferências religiosas. Ele não diz que somente essas pessoas que pensam desta maneira que podem praticar – qualquer um pode praticar. Ele é universal. Qualquer pessoa pode aproveitar os benefícios do yoga.
Mas nós precisamos “ir à fonte” para aprender?
Isso é chamado guru parampara. Na cultura indiana você vai a um professor e aprende dele, da mesma maneira que no ocidente você vai a uma escola para aprender o abecedário. Mas nós devotamos tudo a essa linhagem, do mestre (guru) do professor para você. O conhecimento é transferido assim. E então, depois de muitos anos, o guru diz: “Muito bem, você aprendeu o que tenho a ensinar, agora vá mundo afora e ensine.”. Apenas aí você pode ensinar. Não é como fazer um curso de formação de professores de duas semanas. Você tem de ser um aluno antes de se tornar professor. Você tem de ser um aluno antes de poder compreender “o quê é yoga?”.
Você tem de ter a experiência disso antes de poder ensinar a outros.
O que você pensa sobre o fato de hoje em dia haver mais professores de yoga no Ocidente do que na Índia?
É um mercado. É por isso. Todo mundo quer se tornar um guru imediatamente. Quinze dias, um mês, e então eles querem ser uma grande estrela, sair em revistas... [risos]. Todos os yogis [veneráveis], eles não saíram em revistas. Eles nunca fizeram propaganda de si mesmos. Eles nunca disseram: “Olha, eu sou um grande yogi.”. Isso é apenas ego. Você deve seguir os yamas (códigos morais de conduta) e niyamas (auto-purificação e estudo).
Nós recebemos muitas ligações de ocidentais. Eles perguntam: “Como posso me tornar um professor?”. Eles escrevem a nós: “Como posso me tornar um professor?”. Você deve se tornar um aluno em primeiro lugar. Por um longo tempo. Talvez uns dez anos.
Ensinar é muito difícil. E a não ser que você queira verdadeiramente entender o que é yoga, como você poderá ensinar?
Você teria algumas palavras finais sobre yoga?
Você deve ser um aluno, um estudante por toda sua vida. O Yoga nunca vai acabar. É como um oceano e o que nós aprendemos é como uma pequena gota. Há muito para aprender e por toda nossa vida nós continuamos a aprender.
URL original:
http://lime.com/yoga/story/2649/meet_ashtanga_yogi_r._sharath
Links:
[1] http://www.ayri.org/biography.html
[2] http://en.wikipedia.org/wiki/Krishnamacharya
[3] http://ayri.org/
[4] http://www.rsharath.com/
